Desde a adolescência, Luís Bacelar Vidal trilha seu caminho entre os livros, descobrindo nos grandes nomes da literatura brasileira o fascínio pela leitura e, posteriormente, o desejo de escrever. Sua primeira paixão literária nasceu graças a um gesto simples de uma colega, que lhe emprestou “Mar Morto”, de Jorge Amado. O impacto desse romance foi tão marcante que o autor o releu diversas vezes e, a partir dali, não parou mais: seguiu lendo obras de Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, e, só mais tarde – já às vésperas do vestibular – encontrou-se com autores como Machado de Assis e Eça de Queiroz.
A ideia de escrever seus próprios romances sempre esteve latente, mas Luís só a concretizou após a aposentadoria, quando finalmente sentiu que poderia dar forma àqueles mundos e personagens que habitavam sua imaginação. Mesmo sentindo insegurança quanto ao próprio talento, ele tomou coragem e lançou “Éramos Três” e “Minha Amada Assassina”, obras recebidas com entusiasmo pelo público.
Ao falar de suas maiores influências, Luís destaca não apenas Jorge Amado, mas também autores como João Ubaldo, Nelson Rodrigues, Dostoievsky e Eça de Queiroz. No entanto, a influência mais duradoura e constante vem de “Mar Morto”, romance que permanece presente em sua trajetória, seja pelas releituras, seja pela atmosfera que inspira seus próprios textos.
O despertar para a escrita aconteceu junto com a experiência de compartilhar leituras em grupo durante a pandemia, quando Luís percebeu que era possível, sim, ousar e escrever suas próprias histórias. Lançou-se ao universo literário, motivado pelo desejo antigo e pela certeza de que, apesar das dificuldades, era capaz de criar narrativas com sentido e profundidade.
Para Luís, o processo criativo nunca foi um desafio — as ideias surgem durante caminhadas matinais, quando imagina conversas e resolve conflitos entre seus personagens. Ao retornar para casa, basta transpor para o papel tudo o que sua mente já construiu. O grande entrave, porém, está na publicação: os custos de editoração, o difícil acesso às editoras e a limitada divulgação são obstáculos enfrentados por muitos autores iniciantes. Ainda assim, ele não se deixa desanimar pela ausência de retorno financeiro e mantém o compromisso de continuar escrevendo.
Seus romances são conhecidos pelo olhar crítico sobre o comportamento brasileiro: “Éramos Três” analisa, de maneira sarcástica e aguda, temas como a falta de educação social, o desrespeito ao próximo e o funcionamento precário das repartições públicas. Para dar vida a essa crítica, escolheu uma família trisal, subvertendo padrões e provocando discussões necessárias. Já “Minha Amada Assassina” mergulha nas dificuldades enfrentadas por estudantes do interior e nas marcas deixadas pela ditadura de 1964. “O Caixeiro Que Falava Inglês”, por sua vez, é uma homenagem a “Mar Morto”, dando sequência à história por meio de novos personagens e reinventando a atmosfera do romance original.
O mar do Nordeste e os costumes regionais são presença constante em suas obras. Observador atento do cotidiano, Luís encontra inspiração no modo de andar, de falar, nos ritmos e nas peculiaridades das pessoas da Bahia. O ambiente praiano, repleto de histórias e simbolismos, permeia suas narrativas e confere identidade singular à sua produção.
Embora participe pouco de saraus e movimentos literários, suas experiências de vida e sua observação do mundo ao redor alimentam temas recorrentes em seus livros: a hipocrisia social, os religiosos incongruentes, as aparências enganosas e o lado humano, complexo e contraditório de suas personagens. Também não esconde o apreço por tratar do aspecto sexual nas histórias, sempre de modo insinuante, sem apelar para o explícito.
O processo de criação de Luís é visceral e imersivo. Assim que define o objetivo central do texto, absorve-se completamente na escrita, revendo e maturando o material até ficar satisfeito. Suas personagens o acompanham nas caminhadas, ajudando-o a destrinchar conflitos e avançar na narrativa. Só depois de um período de maturação é que relê e faz os ajustes necessários.
Para quem deseja seguir o caminho da escrita, Luís aconselha começar com contos ou crônicas, pois são textos mais breves e diretos, facilitando o exercício e o aprimoramento. Salienta a importância da escrita diária e da proximidade com temas vividos e sentidos, adaptando-os conforme a necessidade de cada história.
Apesar dos muitos bons escritores no Brasil, Luís lamenta a falta de leitores, mas segue otimista quanto ao futuro da literatura nacional. Entre seus próximos projetos está o lançamento do romance “O Último Coronel”, que certamente trará mais das questões que tanto o fascinam.
Os livros de Luís Bacelar Vidal podem ser encontrados no site do Danado de Bom e nas Livrarias LDM, em Salvador.
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Uma resposta
Luis Bacelar e suas boas histórias, sempre com um toque picante, mas sem ser vulgar. Já li e recomendo: O Caixeiro que falava inglês, Éramos Três, Minha Amada Assassina, Divina Flor e O último coronel. Lugares, amores e história.