Nesta semana, nossa Imagem da Semana nos leva a um momento único e carregado de significado: um registro feito em novembro de 2023, ao final de uma caminhada simbólica pelas ruas de Guajeru, encerrada no Cruzeiro do Cemitério local. Naquele dia, um grupo de moradores reuniu-se em orações pedindo por chuva – um gesto que, ao unir fé e memória, revela muito das práticas culturais e da riqueza de saberes presentes em Guajeru, Bahia.
A fotografia nos convida a olhar para o cemitério não como um espaço de despedida, mas como um lugar de memórias vivas, que carregam em si narrativas, histórias e ensinamentos. Como Irene Nunes escreve no subtítulo “O lugar onde se dorme” em seu livro “A Memória do Luto como um Saber para a Memória Social de Guajeru – BA”, o cemitério, palavra que deriva do latim coemeterium (local de descanso), é um campo onde o silêncio fala. Ali, sob narrativas que atravessam o tempo, encontra-se uma verdadeira biblioteca de memória cultural. Segundo a autora, “o cemitério guarda memórias, e as memórias guardam o cemitério, como quem guarda tesouros”.
Ao caminharmos por um lugar como o cemitério, somos convidados a refletir sobre a sabedoria de quem viveu, os modos de existir e os ensinamentos deixados, preservados não apenas nas lápides, mas nas orações, na fé e nos gestos de quem visita e cuida desse espaço. Irene explica que ao observar os detalhes das construções e os sinais de fé, somos levados a compreender a singularidade e a universalidade humanas, como a célebre frase de um colaborador de sua pesquisa: “Ali se resume tudo.”
Com base em uma pesquisa realizada durante o Mestrado em Educação na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia-UESB, e publicada pela Editora CRV em 2023, Irene nos guia em seu livro através das marcas de memória e práticas sociais que conectam vida e morte, fé e cultura, silêncio e reflexão. ‘A Memória do Luto como um Saber’ transforma o luto em um convite para compreensão e ressignificação — uma obra de leitura indispensável para quem deseja refletir sobre a memória histórica e humana com profundidade.
Essa imagem e a temática proposta pela autora reforçam o quanto as experiências regionais, como a caminhada de Guajeru, são fontes inesgotáveis de saber e diálogo. Ao mesmo tempo poético e profundo, o livro convida cada leitor a uma pausa – como quem para para um chá – na correria da vida, para repensar memórias, significados e o sensível equilíbrio entre presença e ausência.
Separe um momento, prepare o seu “chá” e mergulhe nas páginas dessa obra que, em essência, nos relembra que o luto também é vida.
O livro está disponível na Loja Online do Danado de Bom
